O segundo semestre sempre é aquele que mais acumula shows aqui pelo Brasil. É a época em que as bandas terminam a divulgação dos discos e a temporada de festivais europeus se encerram, então somos agraciados por grandes festivais (alô, Planeta Terra!) e algumas visitas inesperadas.
Também é o período de grandes lançamentos e, para esse segundo semestre, encontramos algumas tendência: nomes conhecidos do indie buscam se reinventar (Weezer, Wilco, Interpol e até Karen O), o pop inglês mostra que vai muito além dos discos de estreia promissores (Charli XCX, Jessie Ware, SBTRKT e alt-J) e alguns experimentalistas prometem exibir o resultado de suas últimas brincadeiras (Perfume Genius, Flying Lotus, Zola Jesus). Ah, tem a Taylor Swift também. Calma que eu explico.
Karen O – Crush Songs (9 de setembro, Cult)
A frontwoman do Yeah Yeah Yeahs játem nos presenteado com algumas músicas solo desde que começou a se aventurar por trilhas sonoras, compondo para “Her”, “Where The Wild Things Are” e “The Girl With the Dragon Tattoo”, entre outros. Mas é só nesse segundo semestre que vamos ver sua real estreia solo com “Crush Songs”, uma coleção de faixas gravadas entre 2006 e 2007, num esquema meio homemade. As faixas delicadas capturam a essência do que é ter uma crush. Pode dizer, todo mundo já passou por isso.
Banks – Goddess (9 de setembro, Harvest)
No começo de 2014, a cantora de R&B pop Jillian Banks – mais conhecida por seu sobrenome – era uma das maiores apostas para 2014 por uma série de veículos especializados, graças ao EP lançado no ano passado. Depois de atiçar e mostrar pelo menos metade do álbum por meio de faixas frágeis e melancólicas, “Goddess” finalmente sai em setembro. Minha aposta pessoal para ela? Artista revelação.
Ryan Adams: Ryan Adams (9 de setembro, PAX AM/Blue Note)
Ryan Adams anda sumido desde “Ashes & Fire”, o que significa que já se passaram três anos desde seu último lançamento. Isso não quer dizer que ele ficou parado todo esse tempo. Essa é a segunda tentativa que ele faz para o disco, seguindo um álbum produzido por Glyn Johns, todo elaborado e com experimentos com uma orquestra. Em vez disso, ele optou por um disco auto-intitulado de country rock que agradaria a Dylan e Petty igualmente.
Interpol – El Pintor (9 de setembro, Matador)
O Interpol se afastou cada vez mais do som que fazia no começo da carreira, mas “El Pintor” retoma suas origens. Como dizem, há males que vem para o bem, e a saída do baixista Carlos D. parece ter sido um deles. Já ouviu o disco? A NPR liberou o streaming completo.
Tweedy – Sukierae (16 de setembro, dBpm)
O líder do Wilco, Jeff Tweedy, recrutou seu filho de 18 anos para ajudar em um novo projeto “solo”. Não é nada radicalmente diferente do que você esperaria do principal compositor do Wilco, mas surpreende com arranjos dramáticos: backing vocals incríveis, pianos dissonantes e flashes de trompete. Jeff ainda tem seus truques na manga.
alt-J – This Is All Yours (22 de setembro, Atlantic)
O alt-J não é uma banda muito fácil de se definir, mas isso, na minha opinião, é o que o torna tão atrativo. Às vezes eles são um grupo de folk-pop com pegadas funk, em outras, estão sampleando Miley Cyrus em meio a batidas eletrônicas e trompetes, arranjando espaço ainda para criar hinos de art-rock. Há todo um jeitinho britânico que faz essa mistureba toda ter uma junção. E é isso o que nos promete o “This Is All Yours”.
Perfume Genius – Too Bright (23 de setembro, Matador)
Mike Hadreas cansou de se esconder. O cantor e compositor conhecido como Perfume Genius abandonou as estruturas frágeis em que abrigava as letras confessionais, dando preferência a um pop industrial que combina com o drama. Em seu terceiro álbum, Too Bright, Hadreas explora sua sexualidade, relações familiares e a sociedade em geral – de forma bastante pessoal.
SBTRKT – Wonder Where We Land (23 de setembro, Young Turks/XL)
Se você está descobrindo Aaron Jerome só agora, o produtor de dubstep e house que atende por SBTRKT não vai te desapontar com esse tira-gosto de Wonder Where We Land. O segundo disco de Jerome volta a mostrar o som dos clubs londrinos, com sua musa Sampha emprestando os vocais para, pelo menos, quatro das músicas novas, assim como Jessie Ware e Ezra Koenig (Vampire Weekend), Emily Kokal (Warpaint), Caroline Polachek (Chairlift) e A$AP Ferg.
Aphex Twin – SYRO (23 de setembro, Warp)
Ou você está estupidamente animado com esse lançamento ou absurdamente confuso. SYRO está “em produção” há muito tempo e Aphex Twin (aka Richard D. James) não lança um álbum propriamente dito desde Drukqs, de 2001, apesar de ter criado e mostrado muito material durante todos esses anos. A figura influente da IDM e sua gravadora, a Warp, soltaram teasers de formas, no mínimo, intrigantes, começando por um balão em Londres e terminando com esse press realease inusitado. Ninguém sabe muito bem o que esperar, só que vale a espera.
Leonard Cohen – Popular Problems (23 de setembro, Columbia)
Cohen recentemente anunciou que vai lançar o décimo terceiro album de sua carreira, Popular Problems, em comemoração a seu aniversário de 80 anos. Precisa falar mais alguma coisa depois dessa introdução? Não, né?
Christopher Owens – A New Testament (30 de setembro, Turnstile)
Com sua antiga banda, o Girls, Christopher Owens fez um dos melhores álbuns indie da época (até agora), “Father, Son, Holy Ghost”, em partes porque não conhecia limites: imagine o encontro de um coral gospel com Beach Boys e grunge. O lançamento pós-Girls, Lysandre, caminhou exclusivamente para o folk e country-rock. Mas ainda há esperanças para essa visão ilimitada que fez de Owens tão especial: em A New Testament, Owens busca inspiração nos fundamentos da música norte-americana – gospel, country, R&B – com alguma ajuda de seus ex-companheiros de banda.
Prince – Art Official Age e PLECTRUMELECTRUM (30 de setembro, NPG/Warner Bros.)
O mais influente weirdo do pop jogou pesado na divulgação de PLECTRUMELECTRUM, álbum feito com a ajuda de sua banda formada só por garotas, a 3rd Eye Girl, com direito até a conta do twitter liberando raridades. Até agora, ouvimos pouco do álbum, incluindo “Breakfast Can Wait” e a potente “PretzelBodyLogic”. Alguns meses atrás, veio a bomba: Prince gravou um segundo álbum, Art Official Age, por conta própria, e quer lançar os dois juntos. Art Official Age é um pouco mais como se esperaria do Prince – soul, funk e R&B – e até inclui um dueto de rap com Rita Ora. Também é nele que Prince incluiu a música que fez inspirado pelo meme #ThisCouldBeUsButYouPlayin.
Flying Lotus – You’re Dead (7 de outubro, Warp)
Steven Ellison – o produtor, DJ, músico e rapper mais conhecido como Flying Lotus ou FlyLo – disse que queria que seu quinto álbum fosse um álbum de jazz tão bom que deixaria Miles Davis no chinelo. Mas You’re Dead é muito mais que isso. Os versos tem a presença de Snoop Dogg e Kendrick Lamar e parecem focar na morte. O que acontece musicalmente é ainda mais fascinante: Herbie Hancock fez uma participação, o produtor encontrou um jeito de encaixar futurismo e deu vazão a um hip-hop misturado a jazz, funk e electro.
Weezer – Everything Will Be Alright In The End (7 de outubro, Republic)
Os fãs mais entusiasmados do Weezer estavam só na espera de um álbum para se orgulhar, e Everything Will Be Alright In The End pode ser exatamente isso. As evidências estão aí: o primeiro single (“Back to the Shack”) relembra o auge do Weezer (mais pela meta linguagem do que pela música em si), marca a reunião com o produtor de Blue e Green Ric Ocasek… e o tempo. Em vez de soltar logo um novo álbum (eles lançaram os três anteriores em apenas três anos), a banda de LA levou o tempo que precisava. Ainda não ouvi, mas o pessoal da NPR falou que é o melhor do ano.
Stevie Nicks – 24 Karat Gold (7 de outubro, Warner Bros.)
A ‘bruxa branca’ da música, Stevie Nicks, anda numa boa época desde o lançamento de seu excelente álbum de 2011, In Your Dreams, até a turnê do Fleetwood Mac (incluindo Christine McVie). Então é interessante acompanhar o ponto de vista de Nicks em meio a tudo isso, via o novo álbum 24 Karat Gold – Songs from the Vault. O disco traz músicas escritas, em sua maioria, entre 1969 e 1987 (antes do Fleetwood Mac), com algumas outras do começo dos anos 90. As gravações, no entanto, são novas: Nicks foi para Nashville com o produtor Dave Stewart. “Lindsey (Buckingham) vai amar”, ela contou para a Rolling Stone. “Metade das músicas são sobre ele!”
Zola Jesus – Taiga (7 de outubro, Mute)
Zola Jesus, aka Nika Roza Danilova, fez algumas mudanças de estilo em seu quarto álbum. Taiga, termo russo para o tipo de floresta que permeia a região, virou um tipo de mantra para as ambições de Danilova, a força motriz do álbum. Ela deixa o art-pop gótico e passa a explorar o electropop mais mainstream.
Foxygen: …And Star Power (14 de outubro, Jagjaguwar)
Para descrever o terceiro álbum do Foxygen, um LP duplo, é mais fácil deixar os californianos falarem por si: “Foxygen entrou para a Star Power. É uma banda punk, e você pode fazer parte dela também. Star Power é uma estação de rádio que você pode ouvir só se acreditar nela. Com vocais feitos em gravadores de fita cassete no Beverly Hills Hotel e no Chateau Marmont. 82 minutos de folk psicodélico, soft-rock e D&D doomrock. Todos somos estrelas dessa cena.”
Jessie Ware – Tough Love (21 de outubro, PMR / Island)
A sensação do pop-soul, Jessie Ware, arranjou tempo e não poupou esforços para superar seu disco de estreia, Devotion. Ela volta nesse segundo semestre de olho nos grandes prêmios, mirando alto e apostando na variedade. Ed Sheeran, Miguel, Benny Blanco e muitos outros podem até cuidar do pop mainstream, mas há um quê de garage que fez Devotion se destacar entre os ouvintes. E que Tough Love promete trazer de volta.
Charli XCX – Sucker (21 de outubro, Neon Gold/Atlantic)
Aqueles que ainda não estão familiarizados com True Romance, o álbum de estreia de Charli XCX, precisam saber que a cantora e compositora inglesa tem um grande futuro pela frente. Ela emplacou dois hits no verão europeu (“Fancy” com Iggy Azalea e “Boom-Clap”) e seu próximo álbum tem tudo para surpreender. Charli viajou até a Suécia para um acampamento com o intuito de extravasar a raiva e compor, arriscando um álbum punk feito com a assistência de Rivers Cuomo (Weezer) e Rostam Batmanglij (Vampire Weekend), mudou de ideia e acrescentou uma pitada pop. Só por Break The Rules já dá para saber que esse promete.
Taylor Swift – 1989 (27 de outubro, Big Machine)
Bom, todo mundo tem sua opinião sobre Taylor Swift, mas, com o passar dos anos, ela finalmente está embarcando na história de ser uma popstar. Como explicou no programa da Oprah, 1989 é sua homenagem às paradas de sucesso do fim dos anos 80 e é, também, “seu primeiro álbum pop documentado”. Tchau, country! 1989 está destinado a mostrar a interpretação de Taylor das tendências que corriam as rádios no ano de seu nascimento.