Carioca radicada em São Paulo, Amanda Magalhães, que talvez você reconheça da série 3%, flerta com contrapontos em seu segundo álbum. Opostos que se complementam, vivem em simbiose. É a MPB e a música eletrônica andando lado a lado, misturando o orgânico e o sintético, bebendo ora de ritmos regionais do Nordeste, ora do Sudeste.
“Estou numa fase onde me sinto mais à vontade musicalmente, com mais propriedade pra escolher o que quero e gosto de cantar, por isso quero muito dividir logo esse trabalho com quem vem me acompanhando (…) Cada pedacinho desse trampo tá carregando muito de mim”, ela explica.
E o primeiro gostinho desse trabalho vem na forma de “Doce Encanto”, música produzida em parceria com o baterista e percussionista Tuto Ferraz. Esses contrapontos desaguam na própria composição, que retrata o se apaixonar pelo seu oposto, mergulhar em território desconhecido.
Citada nominalmente na música, Oxum é a divindade africada que domina as artes do amor e valoriza tudo aquilo que é belo e fluido. É, ainda, considerada a mãe das águas que vive nos rios e cachoeira. No clipe, é evocada por meio de elementos como o Abebé, espelho usado por Oxum para se admirar, e o dourado/ouro, que representa sua riqueza.
Essa fluidez e movimento, por sinal, estão presentes na própria música e muito bem representados no clipe assinado por Gabriel Manso, contado pelos corpos que se entregam à água, se deixam guiar por Oxum.
Mas quando o assunto é ancestralidade, Amanda ainda tem outras divindades muito mais próximas a quem recorrer: sua própria família. Com uma intensa influência da música negra desde cedo, ela é neta de Oberdan Magalhães, um dos melhores saxofonistas tenor que o Brasil já teve, e filha do produtor e arranjador William Magalhães (da Banda Black Rio), a quem ela chama de seu guru do funk, do soul e do samba.
Sentiu o peso do que vem por aí? O disco “Maré de Cheiro” está previsto para maio. Mas, nesta quarta (26), acontece um show de pré-estreia no Teatro Alfredo Mesquita, às 21h, com entrada gratuita.