O Hipertrópico, banda de Londrina, transita entre a cena indie, bebendo da fonte da MPB para criar faixas carregadas de brasilidade. A última delas, “Como Num Dia de Céu Azul”, saiu esses dias e é uma das últimas a integrar “Atlântico”, álbum que chega em doses homeopáticas, música a música, desde o ano passado.
A estratégia, traçada junto à Tratore, começou a tomar forma quando estavam no final das gravações. “É a famosa adaptação do artista ao mundo moderno online”, explicou Vinícius Carneiro, guitarrista da banda, em entrevista exclusiva para o Shelter junto ao vocalista Fernando Cacciolari. “Mas o álbum físico, completo com as dez bonitonas, ainda vem! A gente ainda espera um vinil bonitão dele!”.
Visando aproveitar melhor o fluxo de como os lançamentos aparecem para as pessoas, é fato que sobra mais tempo para degustar cada single, reparar em detalhes que enriquecem. Em “Como num dia de céu azul”, por exemplo, a feira do centro de Londrina vira coadjuvante, integra a música que nasce autobiográfica.
“Inspirado no Chico Buarque, escrevi ela como uma carta a um caro amigo distante quando estava morando na Itália, em meados de 2017”, conta o vocalista. “Naquela época, eu realmente estava fazendo minha vida por lá, como conto na letra, realmente tinha arrumado um trabalho, feito amigos, e até estava namorando, e estava tudo bem, até então. O céu azul, na verdade, já veio com uma pitada de saudade do Brasil, especialmente do céu daqui de Londrina, que tem um tom de azul muito único, que inclusive considero um dos cartões-postais da cidade”.
O clipe que a acompanha retrata bem essa saudade e o sentimento de estar deslocado em uma nova cidade, mesmo quando a gente diz que tá tudo certo. Confira:
Com direção de Filipe Menck e edição/VFX/coloração do designer Paulo Doi, o clipe foi desenvolvido pela Cafeteria Filmes Co. e marca uma parceria de longa data. “O Filipe é amigo de infância do Rafa (Félix, que toca os instrumentos de sopro na banda), eles moram no mesmo bairro até hoje! O Paulo é amigo deles de adolescente e também do Felipe Scalone, que foi quem gravou o nosso álbum ‘Atlântico’ no estúdio dele, o Junkmahal, aqui em Londrina. Os dois já tocam juntos desde meninos, e além de um excelente designer, o Paulo também é um ótimo músico! Durante as gravações, ele teve a oportunidade de acompanhar o progresso da nossa música ‘Eram os Deuses Astronautas’ e dali, ele mesmo já manifestou o interesse de gravar um clipe para ela”.
“Aí, quando conseguimos o PROMIC para financiar os clipes, os dois foram as primeiras pessoas que pensamos em chamar pra essa parceria! Nossa ideia sempre foi manter esse DNA londrinense em nossas produções. Nós ainda não havíamos trabalhado juntos antes, mas fazer isso entre amigos é muito legal, pois já temos uma certa intimidade uns com os outros pra dizer abertamente o que pensamos, e isso é muito importante no processo criativo.
O roteiro do clipe foi inicialmente criado em conjunto por todos nós. Tentei passar para os meninos essa ideia de estar em um lugar desconhecido e se sentir deslocado, e daí veio essa ideia do personagem principal (interpretado pelo Bruno Lima, um querido amigo meu do curso de teatro da FUNCART) ser essa figura do estudante que se muda para cá, o que é muito comum aqui na cidade, que é bem universitária. Nossa ideia era justamente fazer o contraponto do sentimento da música no clipe, mostrar que muitas vezes respondemos que está ‘tudo bem’ apenas por conveniência.
Na sequência, o Paulo veio lapidando e incrementando as ideias no roteiro e depois partimos para as filmagens! Como todos nós também temos trabalhos regulares, gravamos tudo nos fins de semanas de abril. Foi um mês bem intenso, tivemos várias locações para filmar pela cidade. Foi um trabalho muito bem organizado e ágil, tanto é que em 1 mês conseguimos produzir tudo para podermos mostrar pra vocês aqui! Queria aproveitar o espaço inclusive para agradecer essa equipe maravilhosa e também a todos nossos amigos que toparam aparecer de figurantes no clipe. Bom, deu pra ver que foi um trabalho feito em amizade, e isso é um valor que fazemos muita questão de levar com a gente.”
E como deu pra reparar pelos spoilers aí em cima, “Atlântico” se encerra com mais duas músicas: Eram os Deuses Astronautas e Oração ao Mar. Essa primeira, inclusive, com mais um clipe nessa parceria com a Cafeteria Filmes Co.
Sobre elas, Vinícius adianta: “são as mais intensas e sentimentais do álbum, com as letras que nos são mais pessoais, sabe? Então, além de duas músicas lindas, vai ter mais um clipe e muito sentimento nesse último capítulo do Atlântico!”. E aí, prontos pra embarcar?
Matéria linda demais, pessoal! Muito obrigado à Bruna por toda a atenção e por essa escrita linda!