Desde o finado Planeta Terra, ficamos órfãos de festivais que concentrassem nomes do mid e mainstream sem cair no repeteco. Nos últimos anos, esse cenário começou a mudar com o crescimento do Popload Festival – e também do Balaclava, ainda que em proporções menores.
Escuta as minas!
Se, no ano passado, o lineup já era praticamente 50 a 50, trazendo Lorde e Blondie com peso maior, em 2019, a edição foi delas. Mal aí, Jack White.
Não consegui pegar o show da Luedji Luna dessa vez, mas não é de hoje que suas apresentações são um acalanto para a alma. Unindo poesia, MPB, rap e eletrônico, ela transita com facilidade entre estilos, abrindo diálogos amplos e diversos.
Se Luedji vem numa crescente, imagine Little Simz. A inglesa despontou como uma das apostas do ano e fez por valer – das listas de melhores álbuns, ela é presença constante. E no ao vivo não fica para trás. Dou pouco tempo para escalar nos lineups mundo afora.
Tarde afinada
Confesso que fiquei com algumas ressalvas quanto a uma banda instrumental funcionar em um festival – ainda mais depois de todo o girl power da Little Simz. Erro meu. O trio texano mostrou que pode ser dançante e empolgou a parcela do público que já se encontrava por ali.
Nessa hora, aproveitei também para 1 – garantir meu ingresso do boy pablo e 2 – explorar as ativações por perto, já que referência é sempre bom (trabalho numa agência de BTL, então volta e meia tô ali tentando pensar em ativações que conversem com o evento e sejam relevantes).
Falando nisso, a TNT foi a marca que melhor soube se inserir e conversar com o público. Além de sorvetes e carta de drinks inspirados nos novos sabores de energéticos, levou ainda customizações artísticas e, o melhor, garantiu o after.
A Amazon acertou no público, mas investiu no bom e velho lounge. Também a Prevent Senior apostou em escolhas mais seguras, com uma ativação para foto e distribuição de um nécessaire fofo.
Vai, malandra: Tove Lo com a mistura do Brasil com Suécia
De volta aos shows, Tove Lo chegou como a terceira atração internacional. Foi o show que menos gostei em todo o dia, mas, no geral, bastante divertido. A sueca com jeitinho brasileiro caprichou na simpatia e chegou a tentar um “little square” no palco – o nosso famigerado quadradinho.
Por falar nisso, ela convidou “sua pessoa preferida do Brasil”, o MC Zaac, para se juntar no palco e tocar “Are u gonna tell her”. Danada!
Cansada sim, sexy também
Se tinha outra banda para tocar nesse horário, a gente nem lembra mais depois do comeback do Cansei de Ser Sexy. Entre hits que todo mundo conhecia de cor, projeções atuais quebravam o ar de nostalgia.
E se serviu de indicação, podemos esperar um CSS bem mais político para novas músicas. Lovefoxx levou boa parte do show com o lookinho em homenagem ao MST, além de soltar algumas alfinetadas para Bolsonaro e falar sobre a importância de se aceitar mesmo fora dos padrões.
Hot Chip e sua grande pequena rave
O Hot Chip surge de uma boa safra inglesa de música eletrônica – a mesmíssima de outra atração prestes a desembarcar no Brasil, o Metronomy. Safos, eles sabem a medida exata de beats eletrônicos e instrumentos orgânicos para colocar todo mundo na pista.
E com o começo da noite, foi bem esse o resultado. Principalmente com a escolha de mandar “Ready For The Floor” e “Over and Over” mais pro fim. Não que as músicas do novo álbum, como “Hungry Child”, não tenham mostrado a que vieram.
Para encerrar daquele jeito, o grupo mostrou que também sabe fazer cover. Como? Lançando um “Sabotage” do Beastie Boys.
The Raconteurs, riffs e entrosamento
Em um dia que não era para eles, o Raconteurs garantiu um dos melhores shows do Jack White em solo nacional. À vontade com seus companheiros de banda, agora fica devendo só a visita com o The Dead Weather.
O setlist, no entanto, dividiu. Há quem preferisse uma presença maior das faixas de álbuns antigos, principalmente o “Consolers of the Lonely”. Prova disso foi o coro geral em “Steady As She Goes”.
Mas as faixas de “Help Me Stranger” funcionam bem no ao vivo – e é interessante ver a troca entre Jack e Brendan Benson. Aliás, nos vocais, é o último quem mais surpreende.
Poder com p de Patti
Nos últimos anos, o Popload Festival tem se especializado nessa sintonia entre o icônico e o novo. De Wilco a Blondie, trouxeram nomes de impacto – nenhum deles como Patti Smith.
Que onda de inspiração e força feminina é ver essa mulher no palco. Sua conexão com o público era quase palpável durante a apresentação curtíssima. Sem grandes gestos ensaiados ou firulas, Patti dominou o palco e chegou a incluir até “Land” no setlist – dizem que graças à uma entrevista para o Estadão dias atrás.
boy pablo y el aftercito
A responsa de fazer um after depois do arrebatamento que foi a Patti Smith não é para qualquer um. Mas, mesmo com faixas mais lentas, a banda de indie-pop norueguesa cantou novos amores e ganhou o público na simpatia, chegando a comentar que até estranhava tocar em teatro.
Com dancinhas e brincadeiras com a plateia, colocaram todo mundo para interagir – seja dançando ou levantando o celular para acompanhar as mais românticas.
Sobre acertos e erros
O Popload Festival segue numa crescente como um dos maiores festivais do país – mas ficamos na torcida para que mantenha a consistência de lineup que tem exibido até agora. Quanto à essa primeira edição nas mãos da T4F, sobram algumas arestas a serem ajustadas.
A pulseira cashless, à primeira vista, é prática e garante menos filas. Menos quando o sinal cai e você não consegue comprar aquela cervejinha ou acaba sendo cobrado duas vezes. Thumbs up pra Braz Elettrica, que conseguiu simplificar processos e atender o maior número possível de pessoas com um dos sabores que agrada todo mundo.
As filas do banheiro já foram comentadas até dizer chega – em compensação, o dia inteiro manteve pontualidade britânica e os staffs conseguiam ajudar até a pessoa mais perdida do rolê.
Seguimos na espera da próxima edição, na torcida para rolar um Neil Young (seria meu sonho? Seria).