Brutal e tocante, com uma pitada de desesperador. É um livro que fala de tudo, da não-conformidade ao fardo de ser mulher, de abuso sexual a famílias despedaçadas, mas definitivamente não de vegetarianismo. Essa escolha, na verdade, é o que marca a diferenciação da personagem principal do resto de seu convívio, e dá início ao livro.
Dividido em três partes, a opressão começa já na decisão da escritora sul-coreana em contar toda a história através dos olhos de outros, mas nunca da personagem principal, que segue sem voz própria do começo ao fim, a não ser por poucas inserções ali no comecinho.
Ela passa do ponto de vista de seu marido abusivo para o cunhado que a sexualiza e só na parte final é que traz um olhar feminino, com o final da história narrado por sua irmã mais velha.
Sem entrar em detalhes (que levariam a spoilers), a decisão de virar vegetariana, assim, do nada, causa um impacto na família tradicionalmente disfuncional – como todas o são, em um nível ou outro.
Apesar das poucas páginas (juro, não chega a 200 na edição em que peguei), a escrita que oras beira a um surrealismo na forma como desenha metáforas entre a fauna e a natureza humana, ora nos leva a reflexões mais profundas, vem bem da escola de Kafka e, talvez, uma das partes mais interessantes seja exatamente essa troca, ver a interpretação dos outros e como esse reflexo de realidade bateu ali.
Uma leitura rápida e marcante, como quando nos aventuramos por filmes ou músicas totalmente fora da nossa zona de conforto, mas que nos mostram uma outra maneira de fazer arte.
Nota: ★★★★½
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