Quanto tempo cabe numa saudade? Horas são um conceito simples, mas tempo? O tempo não. Se existisse uma fórmula certa para calcular essa medida, ela poderia ser exatamente proporcional à distância de quem se gosta.
Esse é o tipo de questionamento que deu vida à “Pequena Teoria da Dilatação Temporal”, single do lllucas acertadamente lançado em pleno Dia dos Namorados.
“A música surgiu da soma de parênteses e digressões sobre o que é o tempo, a forma como cada um enxerga sua passagem ou mesmo como ela se impõe a cada sentimento.”
“Já com a música construída, eu tive a sensação de que essas várias aplicações do tempo podem ocorrer simultaneamente, como em pequenos microversos. Isso fica sintetizado de forma explícita no vídeo”, explicou Lucas Rocha, fundador do projeto.
À primeira vista, pode parecer contraditório celebrar a data com uma faixa onde a melancolia dita o ritmo. Mas existe certo conforto em saber que estamos todos no mesmo barco, imersos em um sentimento coletivo.
Junto ao single, sai também o vídeo em 3D assinado pelo artista gráfico Oleite. O conceito da música se desdobra em vários microversos, formas que vivem em solidão sem nunca se chocar ou encontrar, existindo em dimensões diferentes.
Aproveitando o tema, conversei com Lucas (voz e guitarra) e Caio (baixo) sobre processos criativos na quarentena, influências e, por que não?, crushes. Acompanha só:
Sinto que a quarentena jogou luz sobre vários problemas que levávamos quase em piloto automático. No “Meias novas esquentam mais do que abraços”, tinha ali um pensamento sobre o conceito de amores líquidos. Agora, “Pequena Teoria da Dilatação Temporal” traz um outro olhar sobre o tema. Acham que o pós-pandemia ainda resulta numa nova forma de encarar relacionamentos ou tudo volta ao antigo normal?
Lucas: Eu imagino que Pequena Teoria da Dilatação Temporal e Meias Novas Esquentam Mais do que Abraços trazem conceitos totalmente interligados e complementares, sendo o primeiro consequência do segundo. Ambos trazem o tema da solidão, mas claro que, por ser inteiro escrito nesse momento onde tudo parece incerto, acho que Pequena Teoria consiga soar mais imersiva e explícita.
É muito difícil pra gente prever algo que ainda estamos vivendo tão intensamente (a pandemia), mas imagino que o que tínhamos por “normal” não exista mais. De certa forma, sinto que esse single que lançamos diga respeito ao processo de adaptação, mudança e saudade.
Apesar de todo esse contexto mundial, parece um período bem produtivo para vocês. Teve mixtape, a session no “No Âmago” que foi pro ar e esse lançamento. Como tá sendo balancear a pressão para criar coisas novas com os momentos de ansiedade e ócio?
Caio: De fato, a gente tá vivendo uma loucura nesses tempos de pandemia e a produtividade se torna algo bem complexo. Creio que o conceito do que é ser produtivo ou não tenha se alterado bastante. De qualquer forma, estamos bem animados com essa sequência de materiais novos e do apoio que provém dessa parceria que estamos firmando com a Orelha Muda, algo que nos dá segurança pra botar em prática os planos que temos pro final de 2020 e começo de 2021.
Falando nisso, como ficaram os processos criativos à distância tanto para composição quanto para chegar no conceito do vídeo?
Caio: O conceito do vídeo surgiu a partir da capa, que por sua vez partiu totalmente da ideia minimalista que propõe a canção. A distância entre os elementos do vídeo que nunca se chocam e como isso, metaforicamente, vem acontecendo. O processo criativo e de execução foi totalmente adequado à nova dinâmica, à distância que estamos vivemos. Todas as conversas sobre conceito e formas de realização do vídeo foram feitas através de chat online. E acabei puxando a frente pra gente fazer o vídeo em cima de uma imagem que a gente tinha produzido. Como esse é nosso primeiro material de animação 3D, resolvemos chamar o animador gráfico, Gabriel Leite, pra nos ajudar.
O single tem bastante do Connan Mockasin, mas explora também umas nuances de bedroom pop. O que têm ouvido por aí que acabou influenciando o single, direta ou indiretamente?
Lucas: Real que a gente escuta de tudo e as influências acabam vindo sem pensar. King Krule, Puma Blue e Mac Miller são os que têm tocado mais por aqui ultimamente. Até mesmo Connan Mockasin. São os reflexos mais diretos porque são coisas que eu e Caio ouvimos e gostamos em comum. Mas algumas coisas que chegam por fora acabam ficando no subconsciente, como o trap nacional e a geração maldita da música brasileira (no meu caso) e ABC Love e Melody’s Echo Chamber, no caso de Caio
Pra fechar, já que a data é propícia, qual o maior crush musical?
Caio: Gevard Dulove (ABC Love)
Lucas: Mc Nick.