No apogeu dos anos 90, com suas diversas facetas e rupturas com a estética da década anterior, o encontro de duas pessoas passou, de forma quase despercebida, pelos olhos insurgentes de quem se deparava com o poderoso e visceral grunge. Jeff Buckley, que ganhava holofotes pelo álbum Grace (1994), e Elizabeth Fraser, vocalista do grupo escocês Cocteau Twins, acessaram suas respectivas órbitas, se apaixonaram e registraram um pouco dessa incursão afetiva em estúdio.
O resultado dessa colisão amorosa foi a faixa All Flowers In Time Bend Towards The Sun, interpretada em um dueto imprevisível, gravado com ares de urgência, espontaneidade e uma intensidade que delatava o que eles estariam vivendo naquele momento. Na letra, uma declaração de amor quase sem refinamento e, ao seu modo, trágica, munida de oscilações entre resignação e explosão nas vozes de ambos.
Cada vez que escuto essa música, nutro a impressão de que, à época, ela não poderia ser executada de outra forma, tampouco deveria ganhar uma nova versão nos dias de hoje. É no aspecto improvisado da interpretação de ambos que encontramos uma forma singela de perceber a beleza em aspectos melancólicos da trajetória humana. Com mais produção, edição e acabamento artístico, sinto que essa percepção seria escoada e perderíamos um tanto do brilho factual desse encontro.
É triste pensar que este poderia ser apenas o primeiro de muitos relatos sonoros da dupla, se não fosse o afogamento acidental que tirou a vida de Buckley em 1997. Quanta nuance, dinâmica e sinergia ainda seriam compartilhadas conosco? De toda forma, quem somos nós, afinal, para projetar esta timeline de acordo com nossos desejos, não é? O que foi concebido, vivido e compartilhado está ao nosso alcance e isto é mais do que suficiente para dar cor, cheiro e gosto para nossa passagem na Terra!
Caso ainda não saiba do que estou falando, dê aos seus ouvidos uma chance para conhecer este casal improvável e inspirador. Aperte o play!