Quase tudo no mundo é uma repetição de outras coisas e com a literatura não é diferente. Quando se entra no universo de literatura fantástica, então, na maior parte do tempo os nomes dos personagens são apenas diferentes, às vezes com criaturas que não existem em alguma outra história. Acompanhamos o herói, o predestinado, a salvar o mundo de um vilão, muitas vezes com um ou dois side kick, uma mulher e muita magia.
Antes de começarem a jogar pedras, quero dizer que amo esse tipo de história mesmo já tendo se tornado um clichê. Porém, o livro sobre o qual vamos falar hoje foge de todas essas coisas.
A quinta estação fala sobre o fim do mundo, entretanto de uma forma única. Não há muitas explicações na sinopse e as coisas vão sendo desvendadas muito lentamente na narração: você pode ter suas suspeitas, mas pode ficar preparado para esperar um bom tempo pelas confirmações.
Nesse universo, as pessoas estão acostumadas com o fim do mundo. Ele já veio várias vezes, na forma de uma quinta estação que transforma tudo em uma era do gelo. Às vezes ela persiste cem anos, outras vezes ela pode durar apenas dois, mas sempre devasta tudo no caminho, e poucos humanos sobrevivem. Dessa vez, porém, será a última vez que o mundo vai terminar.
Em Sanzed, há os Quietos e os Orogenes, esses últimos sendo controlados pelo governo e temidos pelos Quietos, pois eles possuem a capacidade de controlar a terra. Há também comedores de pedra, que se acredita estarem extintos, obeliscos donos de uma magia obscura, animais que devoram tudo pela frente, carniceiros, mas que também são usados como animais de estimação. E vai além.
A maioria dos personagens presentes são mulheres, a maioria das pessoas são negras, há diferentes castas, como a dos Reprodutores, há homens trans e mulheres trans, relacionamento entre pessoas do mesmo sexo é visto com naturalidade, e, pasmem, há um triângulo amoroso que funciona como um triângulo amoroso deveria ser: três pessoas que se importam umas com as outras e se amam, sem disputas para ver quem deveria ficar com quem.
Acompanhamos o ponto de vista de três personagens: Essun, Damaya e Syenite. Cada uma dessas personagens conta uma parte distinta da história e há até mesmo uma narração diferente para uma delas, Essun. Sempre que o capítulo passa para o que está acontecendo com ela, a narração muda para segunda pessoa, uma narração que não é muito comum mas suspeito que está sendo, bem aos poucos, popularizada. Para quem não sabe, quando a história está sendo contada em segunda pessoa, o narrador sempre se refere a “você” (você se levantou, você ficou irritada, você parecia cansada…).
Confesso que é algo que costuma me irritar, e se mal executado pode ser mais irritante do que narração em primeira pessoa, mas a escrita da autora, N. K. Jemisin, é tão fluida e poética que em nenhum momento isso chega a incomodar, e no final isso se mostra essencial.
A quinta estação é o primeiro livro da trilogia Toda era tem seu fim, e está sendo publicado aqui no Brasil pela editora Morro Branco, que já informou que o segundo volume deverá sair apenas no final do segundo semestre, então se são ansiosos como eu recomendo esperar um pouco antes de começar a leitura porque o fim é certo que vai te deixar querendo mais.
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