Ao lançar o álbum In Absentia (2002), quando ainda estava à frente do Porcupine Tree, Steven Wilson já dava sinais de que não se acomodaria na cena de rock progressivo que ajudou a remodelar ao longo dos anos 90. Neste e nos discos subsequentes, passou a apresentar elementos de diversas vertentes musicais, além de um crescente poder de síntese ao transmitir suas mensagens e um nítido potencial para compor hits.
Esse potencial se materializou de vez quando formou o bem-sucedido projeto Blackfield, com o israelense Aviv Geffen, e quando se lançou, definitivamente, em carreira solo, no fim da década de 2000. Desde então, Steven Wilson consolida seu espaço entre os artistas mais inquietos, versáteis e prolíficos da atualidade, ainda que obscuro aos holofotes do mainstream fonográfico. Por todas essas razões, acaba por ser um dos meus artistas prediletos de todos os tempos.
Acima de toda e qualquer suspeita, posso dizer que o britânico concedeu mais um desafio aos fãs e lançou o clipe de EMINENT SLEAZE, faixa que fará parte de seu próximo álbum The Future Bites, com lançamento previsto para o início de 2021.
Logo de cara, é possível notar o cuidado e a interdisciplinaridade que Wilson tem empregado em sua carreira solo. Com brilho cinematográfico, a fotografia e o roteiro do clipe apresentam uma estética sombria do século XXI, indicando que os modelos vigentes de desenvolvimento social, econômico e comportamental conduzem um processo inevitável de colapso da humanidade.
Como seguimento a esta temática, o artista revelou, em seu site oficial, que o álbum “explora a forma como o cérebro humano evoluiu na era da Internet”. O tom de desconfiança e ceticismo sobre a forma como as pessoas lidam com a tecnologia já está presente em diversas entrevistas e relatos públicos. Porém, é este mesmo cenário que acaba fornecendo munição para sua capacidade de se reinventar e atualizar sua linguagem artística com o passar dos anos.
Aos 52 anos de idade, Steven Wilson está mais jovem e atual do que nunca, deixando para trás vários de seus contemporâneos, que estão costumeiramente presos a um tempo que, por muitos fatores, não volta mais. Segue abaixo esta forte recomendação para quem busca por ambientes sonoros pujantes e atemporais.