Quase desisti de ler “Cidade das garotas” por dois pontos: 1 – a autora é a mesma de “Comer, rezar, amar”. E a preguiça que tenho da Julia Roberts falou tão alto que automaticamente desconsiderei a leitura. Mas então o hype veio e 2 – na maior parte das vezes, o hype não se justifica.
No começo do ano, peguei de novo naquela despretensão e tive uma grata surpresa. Se tem algo que notei na escrita de Elizabeth Gilbert é sua capacidade de retratar bem mulheres. Não aquelas idealizadas, mas as que têm suas falhas, são absurdamente humanas.
E foi isso que mais me atraiu em “Cidade das Garotas”. Vivian Morris é uma narradora ágil, engraçada e sincera – às vezes, até demais. Ela relembra sua juventude em uma carta para Angela, cuja identidade descobrimos mesmo no decorrer do livro.
Bem no período pré-segunda guerra, acompanhamos a mudança de Vivian para Nova York depois de ser educadamente convidada a se retirar da faculdade. Ela se muda para o teatro de sua tia e se encontra nesse clima de glamour e boemia, convivendo com atores, showgirls e artistas no geral.
Como responsável pelos figurinos do teatro, o assunto volta e meia recai sobre moda – em descrições tão bem feitas que você tem vontade de pendurar tudo no armário. Mas seu relato foca principalmente na liberdade recém-adquirida e tudo o que vem com isso: sexo, festas e pessoas tanto quanto interessantes.
São as últimas, aliás, outro ponto forte do livro. Todos os personagens, desde Celia, showgirl e roomie de Vivian, até a própria Peg, Billy, Marjorie e Edna Parker Watson (atriz principal da peça “Cidade das Garotas”), são instigantes, bem construídos em suas falhas e encantos.
Logo nas primeiras páginas, ela já nos adianta que é boa em duas coisas. E duas coisas somente: sexo e costura. Após mais de 400 páginas, não tenho como discordar mais. Vivian tem uma fome de viver e contestar padrões, além de ser uma ótima amiga – tanto para homens quantos para mulheres. Nem precisa dizer que a leitura flui muito bem e, ao final, você se pega questionando sobre coragem, amadurecimento e empatia.
Elizabeth Gilbert disse que queria criar um livro que fosse “como uma taça de champanhe”. E conseguiu. Leve, fresco e divertido.
Nota: ★★★★★
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