Acho difícil falar sobre Golem e o gênio, livro escrito por Helene Wecker, porque ao mesmo tempo que fiquei investida na história e nos personagens, não achei que aconteceu muita coisa. Mas vamos lá.
No livro, como o próprio título entrega, vamos acompanhar um golem e um gênio, embora a história de cada um só vá se cruzar um pouco mais para frente na leitura. Em 1899, um homem chamado Rotfeld encomenda um golem a um antigo rabino que se desvirtuou. A ideia era que esse golem tivesse a aparência de uma mulher para se tornar esposa de Rotfeld (asqueroso, eu sei). O rabino, a princípio, acha impossível, uma vez que um golem é um ser feito de barro sem vontade própria e apenas com um instinto: proteger seu mestre. Mas decide aceitar o desafio, e, então, pouco tempo depois, Rotfeld embarca com seu golem, escondido em uma caixa, em um navio que os levaria a Nova Iorque. Ele acaba dando o comando para despertar o golem pouco depois de embarcarem, mas acaba morrendo, e o golem, que depois receberá o nome de Chava, se ver sozinha em um navio, sentindo a vontade e os desejos de todos ao redor, e sem saber o que fazer, pois não conhecia nada do mundo.
Já em Manhattan, um ferreiro chamado Arbeely, parte da comunidade de imigrantes sírios, começa trabalhar em um cantil de bronze até que um ser em forma de homem aparece na frente dele, confuso e sem saber como foi parar ali, em seus pulsos, pulseiras de ferro, que impossibilita o gênio de tomar a sua verdadeira forma ou usar os seus poderes. Depois do susto, Arbeely decide deixar o gênio, que assumirá o nome Ahmad, ficar com ele e trabalhar como seu aprendiz para as pessoas não desconfiarem do que ele realmente é.
A partir daí, vamos sempre acompanhar um capítulo de cada um, até eles se conhecerem e os capítulos se dividirem. É importante entender que a história deles são bem diferentes uma da outra. Chava acabou de chegar ao mundo, não tem passado, nenhum conhecimento passado, e está aprendendo sobre tudo, porque tudo é novo. Ahmad, por outro lado, tem décadas e décadas de vida e história, uma vida cheia de liberdade e aventura, vagando em sua forma incorpórea de fogo pelo deserto. Os dilemas de cada um também são diferentes: Chava precisa prestar atenção para ninguém perceber o que ela é, ou será destruída, tem que ter cuidado com sua força e sua agilidade, quer viver uma vida o mais normal possível, Ahmad vive inquieto e arredio, sentindo falta de sua liberdade e de tudo que costumava fazer, sem saber como acabou preso.
Eu adorei cada página que li do livro, e sempre precisava de muito esforço para largar. Aprecio como a forma que Wecker escreveu as situações, personagens e sentimentos abre espaço para discussões mais profundas, mas não vou entrar nessas análises e discussões aqui. O que me manteve no livro foram os personagens, o clima que Wecker constrói, os sentimentos que ela consegue fazer o leitor sentir durante a leitura.
Mesmo os personagens secundários – o rabino que ajuda e orienta Chava assim que ela chega em Nova Iorque, o pessoal que trabalha na confeitaria com ela, a comunidade na Pequena Síria, onde Abeerly e Ahmad vivem – são extremamente cativante, e todos, de uma forma ou de outra, ajudam a história a ir para frente (meio como todo mundo na nossa vida também faz nossa história ir para frente, mesmo aquelas que passa despercebido pela gente).
Nota: ★★★★
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