Se tem uma palavra que pode definir minha experiência com “Minha Sombria Vanessa”, é: claustrofóbica. Me dividi muito entre abandonar de vez o livro e acelerar o máximo possível para saber como a história termina, tal é o incômodo que a autora consegue provocar.
Se você nunca ouviu falar nada sobre o livro, resumo aqui o que sabia antes de começar: Russell recebeu o famigerado contrato de sete dígitos para seu primeiro romance, vendido como o Lolita da era #MeToo.
Nele, alternamos o tempo todo entre o passado, quando Vanessa consegue uma bolsa para estudar em um colégio interno da elite norte-americana, e o presente, no qual acompanhamos os efeitos de todos os acontecimentos do livro em sua vida adulta.
Aos 15, ela se coloca naquele pedestal da adolescência em que tudo sabemos e podemos, assumindo, em sua cabeça, o papel de jovem sedutora. Muito por manipulação de seu professor de literatura, Strane, já no auge de seus 42 anos. E, mesmo anos depois, Vanessa tem dificuldade para aceitar o que experienciou como abuso, romantizando a relação e refutando toda e qualquer denúncia.
As cenas de estupro (porque não tem outro nome para o que acontece :/ ) foram as mais difíceis de ultrapassar. E, apesar de entender a intenção da autora em mostrar o quanto a personagem se dividia entre o desejo e a repulsa, é difícil não achar que algumas são gratuitas e erotizadas, principalmente no começo.
O livro é bem forte e dá voz a tantas outras mulheres que já passaram por isso, embora eu questione a brecha que a crítica abre sobre o jornalismo caça níquel, beirando descredibilizar um trabalho sério e necessário.
Pesando os prós e contras, “Minha Sombria Vanessa” incomoda e aborda o tema de forma crível. Não é um livro fácil ou divertido, espere desconforto e algumas discussões quando terminar de digerir.
Nota: ★ ★ ★ ½
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