Shelter entrevista: Yamasasi

De um projeto nascido de forma descompromissada, feito para trazer riffs fáceis e diretos, vem um dos álbuns mais divertidos de 2020 até agora. “Colorblind” parece saído do auge dos anos 2010, quando descobríamos o surf rock de bandas californianas como Wavves e FIDLAR.

Foto: Isabela Yu

Adicione à mistura influências de noise e do psicodelismo do The Growlers, junto à sonoridade do math rock. Comparado com o primeiro EP do grupo,”Hungry/Pace”, amadurecimento é a palavra que vem à cabeça. Não só em relação à sonoridade, como também à temática.

“Pode se dizer que o álbum está bem mais complexo que o EP. As músicas do primeiro EP são muito mais simples em termos de sonoridade, devido às novas influências que adquirimos ao longo da caminhada da banda. Nosso interesse por math rock acabou fazendo com que incluíssemos mudanças rítmicas típicas desse estilo em algumas faixas do disco, sem perder a pegada suja do garage rock e surf punk”, explica o baixista e vocalista João Pedro Matos (JP).

Com ele, tocam ainda João Fernando Vieira (guitarra), Benetton (guitarra) e Gustavo Ferrari (bateria). O grupo começou em Piracicaba (SP) e, se você está pronto para reclamar de apropriação cultural, pode parar por aí: Yamasasi é uma palavra inventada, que entra no lugar de palavrões, como em “isso tá do c******”.

Desde a gravação do primeiro EP, a Yamasasi já deu as caras por grandes festivais nacionais, incluindo o Bananada (Goiânia), Locomotiva (Piracicaba) e Do Sol (Natal). O plano agora, espera-se, é dobrar a meta.

As dez faixas que resultam nesse coeso disco de estreia são fruto do trabalho em equipe, tendo todos os arranjos assinados coletivamente. Passamos de frustrações e amadurecimento a relacionamentos que deram, ou não, certo.

Muitas das músicas, por sinal, fazem referência à cultura pop, como a “Tell Me What To Do”, que nasceu da série “Girlboss”, e “Lost Boys”, que leva o mesmo nome do filme dos anos 80.

Aliás, esse foi um dos temas da conversa com JP e Magrão. Além de perguntar sobre apostas do Oscar (que acontece hoje à noite, btw), também descobri um pouco sobre o processo de produção do álbum e possíveis experimentações.

Dá o play e acompanha o papo:

Antes de tudo, como vocês chegaram na escolha dessa capa maravilhosa?

MAGRÃO: Um dia o Fabiano mandou uma foto (essa) que a Paola Bellote fez do cachorro dele, Truman, e todo mundo curtiu a foto. A ideia de pôr como capa veio porque casa um pouco com o conceito do nome “Colorblind”, pois cachorros não enxergam cores como a gente. Assim como o JP, que é daltônico.

Do primeiro EP para cá, o som da Yamasasi deu uma boa amadurecida e dá pra perceber influências novas e uma sonoridade mais diversa. Além do math rock, tem algum gênero que vocês têm vontade de experimentar ou que até chegaram a testar e não funcionou?

MAGRÃO: Acredito que não. Tudo que a gente testa ou as novas referências que surgem vão se moldando e se encaixando aos poucos. A gente já tentou fazer uns sons mais fritos, mas acabou não rolando.

JP: Ah, mas vontade tem sim. A gente ouve muita música “torta”, por assim dizer, que tem uns elementos que eu curto muito, tipo quando recitam a letra ao invés de cantar, saca? Mas minha voz é muito juvenil pra fazer isso, deixa eu envelhecer um pouco. Alguns sons do Daughters tem isso, black midi também, completamente diferente do que a gente toca, mas né, experimentar é top.

Vi que algumas das faixas foram escritas em 2016 e 2017, mas “Colorblind” como um todo é um álbum bem coeso. Como foi o processo até chegar na versão final? Vocês chegaram a descartar material ou reescrever alguma coisa?

JP: Tem umas músicas que tocávamos nos primeiros shows que foram completamente descartadas, ou só tão de molho até que a gente se decida sobre o que fazer com elas. Às vezes na emoção de escrever um som novo, tudo parece bom e lindo e depois você vê que na real tá bem ruim. De precisar ser reescrita não aconteceu, mas teve um spellcheck do meu irmão pra ver se o inglês fazia sentido.

MAGRÃO: Uma parte dos sons que entraram pro álbum sofreu muitas mudanças estruturais pra chegar nas proporções que gostamos. Mas foi na mixagem que os sons mudaram, e mudaram de cara por muito tempo até chegar a ser o Colorblind.

Por fim , de “Lost Boys” a “Girlboss”, tem várias referências pop que aparecem como inspiração. Então fica o questionamento: qual o filme mais massa desse Oscar?

MAGRÃO: Gostei muito de The Irishman e Once Upon a Time in Hollywood. Mas acredito que as estatuetas vão pro Parasite.

JP: Parasite pode ganhar tudo, na moral, Bong Joon-Ho me mate a pauladas.

Bruna Manfré

não é boa com descrições.

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