“Clube da Esquina II” é o passaporte diplomático de Minas Gerais para a eternidade

Não é de hoje que meu coração bate em compassos compostos quando penso em Minas Gerais e nas minhas visitas a esta porção mágica de solo brasileiro. Infelizmente, foram menos visitas que eu deveria e gostaria de fazer ao longo da vida, mas suficientes para que eu pudesse me conectar com os aspectos mais bonitos, serenos e convidativos da vida. 

É quase impossível descrever o impacto arrebatador das paisagens, da boa receptividade e do universo cultural ali presente, mas uma música, em especial, parece abarcar e sintetizar estes sentimentos com a devida leveza. Clube da Esquina II me bagunçou a partir da primeira leva de notas de sua versão original, ainda sem letra, mas agraciada pelas insólitas pinceladas vocais de Bituca, o glorioso Milton Nascimento, que compôs a música em parceria com Lô Borges no epopeico álbum Clube da Esquina, de 1972

Em todo este tempo ouvindo, processando e criando música, não me recordo de uma sequência tão imprevisível de acordes e harmonias como as que encontramos nesta faixa. Aqui, tudo que é experimentado ao longo do disco parece chegar ao ápice, tão intenso e poderoso que parece reunir elementos dos quatro cantos da Terra em poucos minutos. 

É como tomar um trem semi-expresso de Liverpool ao interior mineiro, de janela aberta em idas e voltas, para desfrutar da grande companhia de passageiros que iriam de George Harrison a Luiz Gonzaga, Paulinho da Viola, entre outros grandes parceiros de viagem.  A letra chegou anos mais tarde e muitos relatos sugerem que ela partiu de um pedido de Nana Caymmi, que teve a oportunidade de regravar a canção em seu disco homônimo, de 1979, e acionou o letrista Márcio Borges para reposicionar a melodia em um contexto poético.  

Diante dessa nova perspectiva lírica, a faixa também ganhou outras versões notórias, gravadas por figuras que, junto ao Bituca, formam uma trindade atemporal do cancioneiro mineiro: Lô Borges, em seu álbum “A Via Láctea”, de 1979 e Flávio Venturini, em “Noites com Sol”, de 1994.

Acima de qualquer suspeita ou parcialidade apaixonada ao lidar com esta música, deixo com vocês quatro das inúmeras faces reveladas de Clube da Esquina II, para que possam usufruir deste verdadeiro passaporte diplomático, que dá a todo o Estado de Minas Gerais liberdade para transitar pelo universo com seu valioso legado para a eternidade.

Milton Nascimento e Lô Borges (Clube da Esquina – 1972)

Nanna Caymmi  (Nanna Caymmi – 1979):

Lô Borges (A Via Láctea – 1979)

Flávio Venturini (Noites com Sol – 1994)

2 Comments:

  1. Alfredo dos Santos Junior

    Grandes lembranças. “Clube da Esquina 2” é essencial.

  2. Pingback: entre(vista) com Fernando Mascarenhas sobre seu álbum de estreia – SHELTER

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