Entrevista: O charme francês se mistura à malemolência latina em Mandarina

Quem diria que a mistura de Colômbia e França daria samba? Mandarina é uma grata surpresa para quem se arrisca em misturas inusitadas. O duo formado pela colombiana, agora radicada na França, Paola Olarte e pelo francês Michael Tainturier passa de elementos da soul e do jazz a ritmos mais conhecidos pelos brasileiros, bem latinos.

Sem negar suas origens, a vocalista se expressa em sua potência maior, variando do espanhol ao francês conforme a música e trazendo uma nostalgia inerente em meio a otimismo e liberdade.

Prova disso é “Lui”, carro-chefe do EP de mesmo nome. A música é aquele indie pop gostosinho que bebe muito da fonte da bossa nova.

O trabalho contou com outras quatro faixas que buscam libertação artística e uma identidade bem própria. Para entender um pouco mais sobre esse background da dupla, incluindo suas influências, trocamos uma ideia que acabou passando até por Liniker!

Confira:

Paola, a primeira coisa que queria saber é como foi a sua recepção em Paris, tendo essa visão de estrangeira e não fazendo questão de esconder suas origens? E como vocês dois começaram o projeto?

Paola: Eu sempre sonhei em morar em Paris e finalmente me mudei de Bogotá para cá há seis anos. Nunca escondi minhas origens e isso não foi um problema para mim aqui. Mas eu tenho que admitir que existem algumas diferenças culturais que levam um tempo até a gente se acostumar. Os franceses podem ser um pouco frios comparados aos colombianos (haha)

Michael: Nós nos conhecemos por amigos em comum. Exageramos um pouco na bebida e no cigarro e começamos a brincar sobre essa ideia de compor algumas músicas juntos. Então, uns dias depois, tentamos criar e funcionou. Mas demoramos alguns anos até decidir que esse, na real, era um projeto importante para nós.

Quais são as influências musicais de cada um e onde vocês divergem?

Paola: Eu curto muito cantores que expressam emoções intensas por meio de suas vozes, como Chavela Vargas e Mercedes Sosa. Ao mesmo tempo, sempre amei bandas como Gorillaz e The Doors.

Michael: Pra mim, o principal sempre foi soul music, Stevie Wonder, Diana Ross, Michael Jackson. David Bowie também é uma grande influência. Então, assim como a Paola, são coisas bem old school. Mas, antes de nos conhecermos, eu tinha pouco conhecimento sobre música latina além da bossa nova.

Paola: E, trabalhando com Michael, descobri música eletrônica e trip hop. Air é uma banda muito importante para nós. Eles sempre foram uma inspiração no nosso trabalho.

E dá para perceber que Lui é bem influenciada por bossa nova. Vocês também conhecem outros gêneros de música brasileira e artistas?

Paola: Estamos muito felizes de saber que as pessoas conseguem reconhecer a influência da bossa na Lui!

Michael: Tem muita música soul e funk do Brasil, tanto de antigamente quanto hoje em dia! Eu amo Liniker, é uma cantora muito inspiradora!

Aliás, vocês decidiram explorar a música latina e também escrever algumas coisas em espanhol. De certa forma, isso faz com que a música soe mais universal, mas, ao mesmo tempo, imagino que também possa afastar algumas pessoas por causa da barreira da linguagem. Como tem sido a conexão do público com o som de vocês até agora?

Paola: Nós temos músicas em espanhol e em francês. Para mim, a coisa mais importante é a emoção. Posso sentir todas as emoções de uma música em espanhol e em francês porque são línguas que eu realmente falo. Até o momento, não foi um impeditivo na hora de se conectar com mais gente.

Michael: Nosso lance é misturar gêneros e criar um som que faça com que os ouvintes viajem pelo mundo e pelo tempo e para fora de si mesmo. Passamos emoções reais, um som que parece familiar em um mundo imaginário.

E como estão as coisas na França agora? Por aqui, muitos artistas acabaram adiando seus lançamentos e/ou compondo músicas que se conectam com a nossa realidade atual. A pandemia mudou de alguma maneira os planos que vocês tinham para 2020?

Michael: Agora na França estamos vivendo a segunda onda de Covid e voltamos para uma quarentena. Quando ficamos em lockdown da primeira vez, em março, decidimos adiar o lançamento do EP para setembro, porque não tínhamos tempo de fazer o clipe de Lui.

Paola: Mas durante a primeira quarentena, gravamos uma série de covers que chamamos de Canciones de Cuarentena, cada uma da sua própria casa. Tem tudo disponível no YouTube. E, já que estamos de volta em quarentena, decidimos fazer novas Canciones de Cuarentena. É verdade que não é fácil lançar música em 2020, com a impossibilidade de tocar ao vivo, mas estamos muito felizes de termos conseguido lançar nosso primeiro EP em setembro.

Michael: É um desafio, mas estamos muito otimistas para o futuro e já começamos a trabalhar em muita música nova.

Paola: A América do Sul está sempre nos nossos pensamentos durante essa crise. Vamos sair dessa mais fortes!

Bruna Manfré

não é boa com descrições.

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