Há dois anos, saí do meu emprego dos sonhos. Não porque eu quis, ou eles, mas aconteceu. Aprendi muita coisa por lá (um dos meus chefes foi diretor de programa na MTV, outra é uma das melhores produtoras artísticas do país) e provavelmente aprendi ainda mais depois – a ficha do que eu queria mesmo fazer da vida só caiu aí.
Eu gosto de produzir conteúdo; caçar artistas novos, descobrir aquele filme ou curiosidade que ninguém sabia ainda e dividir dicas que aprendi. O Shelter, ainda na sua humildade, completa dois anos. E é ele que me empodera, que me dá voz.
Foi pensando nisso que, em comemoração ao aniversário do blog, convidei várias minas que me inspiram a contar o que as empodera.
Mônica Agena – vocalista e guitarrista no Moxine
Na época em que comecei a tocar e a sonhar em viver de música, não tinha a consciência do que seria “me integrar” a um universo quase em sua totalidade composto por homens, muitas vezes ouvi coisas que só hoje em dia me dou conta do quão machistas eram, mas eu fui seguindo o que eu tinha vontade de fazer. Hoje, quando estou tocando guitarra, seja no palco ou em casa, tocando as minhas músicas ou acompanhando um artista, sinto que estou fazendo exatamente o que eu deveria estar fazendo, se eu consigo transmitir essa sensação pra algumas meninas que sonham em ser instrumentistas, compor suas músicas, ter sua banda, acho que já valeu. O empoderamento está aí.
Bells Cavalcanti – colaboradora
Acho que nada consegue ser tão empoderador quanto ver suas amigas, aquelas que você já conhece há tempos, aprendendo (e ensinando) sobre feminismo, equidade e sororidade junto com você. Já tive época em que tinha receio de falar de alguma ideia ou fazer um comentário sobre algo que aconteceu a uma amiga porque tinha certeza que não seria compreendida, seria julgada e desmotiva. O que vejo hoje são as amigas sempre prontas para apoiar e incentivar, que vão atrás de se informar quando não compreendem algo. Quer algo mais empoderador do que saber que suas irmãs sempre vão estar do seu lado?
Zá – cantora
União e empatia me empoderam, saber que não estou sozinha e que não vou deixar nenhuma mulher sozinha nos dá pra poder pra seguir lutando. Saber ou tentar entender o que cada uma passa é o caminho pra fortalecermos a luta. Nós somos muito mais unidas do que a sociedade imagina.
Vanessa Profili (VanP) – Suicide girl, alt model, publicitária e dona de estúdio fotográfico alternativo.
Comecei a modelar por necessidade financeira mesmo mas me descobri nesse mundo. Fiz sistema de informação e larguei por publicidade (apesa de amar sistemas) porque gosto muito da parte criativa das coisas. No final me encontrei melhor criativamente com o mundo alternativo da moda, fotografia, música e arte. Fiz bariátrica há 3 anos atrás e mudou completamente minha relação pessoal com corpo, arte e tatuagem. Parece contraditório mas posar nua me libertou completamente da necessidade de aprovação dos outros. Vi que me amo e aceito meu corpo e outros corpos como arte e vida. Me deixa muito feliz saber que consegui finalmente me aceitar e que gradativamente ajudei a outras meninas “fora do padrão” a se verem de outra forma. Tenho um grupo feminista sobre bariátrica também… Acontece muito de acharem que quem fez bariátrica se odeia e traiu o movimento body positive, mas não é bem assim. Ainda luto contra gordofobia e faço questão de sempre falar sobre.
E você, o que te dá voz?