Sound & Vision #1: Hatchets

Como o próprio nome já entrega, a “Sound & Vision” une duas coisas que a gente gosta: música e fotografia. Numa vibe meio revista impressa revival, a coluna conta com photoshoots incríveis clicados pela Naira Mattia e uma entrevista exclusiva pro Shelter.

Também como na Hit Me, são amigos que abrem e dão o tom da coluna. Nessa, é o Hatchets, banda com o pezinho na eletrônica que você talvez já tenha trombado por aí. Eles abriram o último Planeta Terra e o show do Paul Banks no Cine Joia, fora as várias pool parties e showzinhos que preencheram esse meio tempo.

Num balanço de 2014, o grupo falou sobre os altos e baixos do ano numa conversa lá pelo finalzinho de dezembro, então pode rolar essa confusão inicial com as datas, mas acompanha só:

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“O Paikan foi morar em Londres porque ele queria estudar música, mas também pra ajudar um pouco e fazer uns contatos por lá, contatos que a gente só tinha através de email. Estando lá, ele conhece pessoalmente o povo que fazia remix pra gente. Enquanto isso, seguramos a onda nós três.

Nós temos alguns planos maiores, na verdade. Então ele foi para lá conhecer e ver como funciona, mais ou menos, tocar e ver a Europa. Abrir caminhos com pessoas que nós já conhecemos. Por exemplo, tem o Darren, ele que mixou alguns singles nossos, tipo ‘Chinese’ (New Year’s Love), que é o mais famoso, ou ‘Everytime’. Ele também produziu vários outros sons. Bloc Party no começo, Editors no começo… Pessoalmente, nós não nos conhecíamos, foi por contato de internet. Estávamos procurando um cara que pudesse, sei lá, dar um mix diferente, porque às vezes a gente grava muita coisa em casa e acha que tá bom. Quando você apresenta pra outro cara, com outra visão, outros equipamentos e outro background, vira  um negócio novo. No nosso caso, demos muita sorte porque ele é bom, então transformou nosso som numa coisa que a gente nem imaginava que estava pra chegar. Você pega as primeiras masters das músicas, antes dele mexer, era uma coisa. Depois que a gente fez todo esse trampo com ele, ficou muito massa.

E não é só isso. Tem um cara de Nova York, que é o Sinkane da DFA Records, a gravadora do LCD Soundsystem, ele fez um remix pra gente no ano passado. Deu uma bombadinha, tiveram vários mil plays, só que era um contato através de email. Então agora que ele tá em tour pela Europa, o Paikan foi no show, conheceu o cara, sabe? Falou pessoalmente com ele. Tem umas rádios da Holanda, Rotterdam, Amsterdam, que tocam som nosso, então dá para ele ir lá, conversar, levar disco. Parece trabalhoso, mas abre caminho pra ano que vem a gente ir pra lá, fazer uma tour e tentar se desenvolver mais. O Paikan vai ficar um tempo em Londres, mas talvez no ano que vem a gente circule por toda a Europa.”

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“Fizemos dois shows sem ele. Usamos algumas programações que substituíram um pouco a presença física, mas claro que atrapalhou um pouco essa ausência. A gente conseguiu segurar, mas ficou um som um pouquinho mais minimalista, sem deixar de ter a nossa cara. Como isso é temporário, não atrapalhou tanto.

Aqui a gente tocou em vários lugares, tocou no Cine Joia, abriu pro Paul Banks, tocou no Beco e em outros Estados, mas como estamos nessa ano após ano, queríamos experimentar alguma coisa nova. Como rolou esse incentivo de ter um remix lá fora, de tocarem nosso som numa rádio de lá, por que não tentar fazer uma tour, ficar um tempo lá?

Acho que a gente nunca conseguiu parar para fazer uma tour, porque todo mundo trabalha. Espero que agora a gente consiga parar e ficar um período só viajando, só vivendo disso, porque, por enquanto, aqui não dá pra viver só de banda, cada um tem seu trabalho paralelo.

2014 foi um período de grandes transições, no começo do ano saiu nosso tecladista, então ficamos um período se adaptando, transitando entre chamar alguém novo ou ficar em quarteto até decidirmos ficar mesmo como quarteto. O Paikan largou a guitarra pra tocar teclado, fazer a função do integrante que saiu, e esse foi um período de definições.

Foi a época de decidir se íamos pra fora, se íamos passar um tempo lá e estudar mais música, o Paikan planejando a viagem dele pra Londres. Foi um ano menos intenso em relação a shows, mas a gente gravou clipe, lançou música, continuou compondo e fazendo as coisas off, diferente de só fazer show como foi em 2013. Tivemos que nos reinventar em oito meses, por aí. A gente tinha cinco na banda, agora somos três. Rolou toda essa adaptação até a gente falar “quer saber? Vamos fazer os shows que a gente tem pra fazer nesse semestre aqui, tocar nos lugares, encerrar e fazer música só”. Resolvemos focar em gravação e composição, que é isso que importa agora.

Como a gente tá no fim do ano, já deu esse break, não vai mais rolar nada de agora até o fim de janeiro, que tem um festivalzinho e um showzinho ou outro. Até porque, com o Paikan fora, a gente até gosta de tocar, mas não é a mesma coisa.”

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“Se você pega as bandas inglesas, elas não são nessa pegada de eletrônica, ficam naquele rockzinho britânico mesmo e até essa ascensão meteórica que o Disclosure teve serviu pra abrir a mente das pessoas e mostrar que existem outros caras fazendo música. Você pega bandas que a gente adora, bandas da Austrália, o Cut Copy, ou até mesmo da Inglaterra, como o Jungle agora, que chegou e é mais soul e disco – é genial. Tem também as bandas da DFA, de Nova York, tem o Holy Ghost, que já faz isso desde 2010, 2011, e a galera (do show business) começou a crescer o olho pra cima disso também. É bom que tenha essa divulgação, que apareçam mais.

No Brasil tem pouca coisa, aqui em São Paulo menos ainda. Tem a gente e mais dois caras. Quanto mais aparecer, melhor, porque ajuda a fortalecer esse tipo de som, esse tipo de banda, e aumenta a procura pra festivais.

Como fazemos parte de um selo formado só por DJs, que é o Gop Tun, somos a única banda no meio de uma galera da eletrônica. Cada vez mais o nosso selo produz festas de música eletrônica e, de uma forma ou de outra, somos inseridos nisso, lançando um remix nosso ou um DJ lançando uma mixtape com uma música nossa, sabe? Isso ajuda bastante.

Vai ter um dos caras agora que toca com o Todd Terje, por exemplo, que está fazendo um remix pra nós também. Investimos muito nesse tipo de coisa. É algo que as bandas às vezes não fazem muito aqui, não estão ligadas que dá pra fazer esse tipo de coisa legal.

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Cada música nova que a gente faz é mais espelhada em uma coisa que o Prins Thomas fez, que o Todd Terje fez, que é algo que uma banda da Inglaterra estaria fazendo. Então mesmo tocando com bateria, baixo, sintetizadores, samplers, guitarra, a gente estrutura as músicas, pega timbres, perde muito tempo mexendo em programas e tentando descobrir sons novos, formas de cantar e de tocar baixo totalmente mais voltadas para esse som eletrônico, mais de pista, mais dançante mesmo.

Eu acho que o que fica de influência das bandas mais tradicionais, de rock, é a energia que a gente passa no palco. É a pulsação, um olhar pro outro, tocando num lugar pequeno, suado, com a galera em cima, sabe? Não fica aquela coisa parada e com a galera olhando a gente tocar. Você vai ver um DJ e é chato ver o cara parado ali, então é isso, uma música eletrônica, mas feita com energia.

A principal mudança das músicas novas é que, antes, cada um era focado muito mais no seu próprio instrumento, mas houve uma necessidade de aprender a fazer outras coisas. Antigamente o Vini só tocava bateria, hoje ele aprende teclado pra ajudar o Gabriel numa composição.

O Gabriel chegava com uma demo já meio pronta e cada um ia encaixando as suas coisas, era um puta trampo difícil. Hoje em dia, cada um sabe como fazer, grava a própria demo, junta, é muito mais democrático. O Gabriel aprende a mexer num programa, faz um som de bateria, o Vini, um de teclado.

A gente não é uma banda que senta num cantinho, pega o violão e faz uma musiquinha. O processo de composição é diferente. Não é você sentar, fazer uma batucada, um violão, um arranjo e pronto. A gente começa a pensar numa música às vezes pela linha de baixo, depois como vai ser mais ou menos a bateria e aí teclado, por último, a guitarra, e assim vai indo. E é legal que por mais que cada um faça sua coisa separadamente, quando a gente junta, ainda sai um som que é um pouco a nossa cara, um eletrônico feito por uma banda.

Não tem nada de muito ousado nas músicas novas. A gente faz um som que é pra galera se divertir, dançar, e pra gente estar feliz com o que ouve, bater o pé no chão com a energia. Gravamos agora em janeiro, mas já temos umas quatro músicas prontas e sem álbum, então vamos pegar essas músicas e juntar com outras inéditas. O disco deve sair em abril, mas vamos soltar singles em janeiro e fevereiro.

Bruna Manfré

não é boa com descrições.

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