Lollapalooza Chile vs Lollapalooza Argentina

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Texto por: Rodrigo Garcia

Fui convidado pela Bruna para relatar um pouco sobre a viagem que fiz mês passado para Santiago e Buenos Aires, a fim de assistir os três Lollapalooza da América do Sul. A ideia da viagem veio repentinamente, numa dessas manhãs rotineiras em que você termina um job e comemora descendo o feed do facebook. Foi aí que me deparei com um post do Marcelo Costa a respeito da agenda do Jack White. Logo pensei “não tenho nada melhor que isso pra fazer com a minha vida”, convidei um amigo que se vestiu de vermelho, branco e preto por causa do White Stripes por três anos inteiros da vida e ele obviamente aceitou na hora. No planejamento, acabamos sendo agraciados pela adição de dois shows do Jack: um com o Robert Plant num teatro em Santiago e outro solo em Porto Alegre.

Lollapalooza Chile:

Chegamos em Santiago na manhã do dia 14, já no primeiro dia de festival. O Parque O’Higgins, casa do Lollapalooza Chile, fica comodamente na frente de uma das estações de metrô centrais da cidade. Você, brasileiro, já se imaginou chegando num Lollapalooza de maneira fácil e em poucos minutos? Pois é, foi surpreendente pra nós também. Na entrada, outras boas surpresas: em poucos minutos retiramos nossas pulseiras de dois dias de festival e já estávamos cada um com uma bebida na mão, já que também não havia fila para comprar fichas.

Então fomos para o palco principal e chegamos a tempo de ver o The Kooks iniciar seu show esquecível e quase totalmente baseado no último álbum. De lá partimos para o palco ao lado, onde Smashing Pumpkins iniciaria os trabalhos em breve. Lembro de ter lido críticas terríveis sobre o show que fizeram no Planeta Terra uns anos atrás, mas essa nova formação de turnê com Brad Wilk e Mark Stoermer parecia simpática, e na pior das hipóteses veria Stand Inside Your Love ao vivo, o que já valia muito pra mim. Começou morno, mas a banda se provou eficiente e as músicas do último álbum funcionam bem ao vivo, mesmo sem Anaise.

Saímos antes do fim para fazer nossa maior travessia dentro do parque até então, rumo ao palco alternativo e à maravilhosa St. Vincent. Durante essa travessia descobrimos que a versão chilena do festival é muito mais rica em experiência que as demais por aqui.

Inúmeras pequenas atrações rolavam por todo o parque: desde caixas de som com pessoas dançando reggae e dubstep a barracas de brincadeiras do tipo “acerte a bola naquele círculo e derrube o cara no tanque d’água”.

O palco que receberia a St. Vincent em breve ficava no meio de uma pequena florestinha dentro do parque, com uma atmosfera muito diferenciada e que se tornou nosso local preferido do evento. No palco, Annie Clark fez seu show que remete a um desfile de moda rock’n’roll, com elegância e guitarra em todas as canções, e foi elogiada pela performance por ninguém menos que Jack White no show que veríamos a seguir.


Nos dirigimos então ao palco principal pra ver a grande atração da noite, enquanto os roadies todos padronizados de gangsters/amishes preparavam o palco simples e impecável do Jack White, que recebe cuidados até em simples detalhes, como nas estruturas pretas que são revestidas por equipamentos brancos, nos projetores de luz que são modificados com papéis azuis etc.  Na apresentação, um protagonista endiabrado do começo ao fim e uma banda tão boa que, se você estiver de perto, se vê obrigado a ir redirecionando o olhar de personagem em personagem. E o melhor de estar num show de uma banda como essa é não saber o que esperar do setlist. É poder contar com surpresas, coisa que considero estar faltando no mundo da música hoje em dia, onde tudo parece engessado e quadrado.

Na volta para o hotel, ficamos sabendo que os horários de metrô haviam sido estendidos para o festival e, apesar de uma lotação natural nos trens, chegamos em questão de 25 minutos e economizamos o dinheiro do táxi que achei que gastaríamos.

No segundo dia de festival, tivemos o prazer de assistir 4 dos 5 shows naquele nosso palco preferido. Começamos por The Last Internationale, banda adicionada ao line-up depois da baixa do NOFX, que assim como o trabalho antigo do Brad Wilk (Rage Against The Machine), também faz um rock baseado em letras políticas e na força do povo. A vocalista cantou uma canção famosa chilena e ganhou o público com facilidade. Assistimos sentados em uma das poucas sombras que encontramos por lá, um pouco mais de longe, ainda moídos do dia anterior.

A seguir colocamos nossas pernas de volta à ativa para ver Chet Faker mais de perto, uma das mais interessantes atrações que o Lollapalooza Brasil deixou de pegar, provavelmente pela passagem dele por aqui ano passado. Usando diversos panos pra se proteger do forte sol presente, animou facilmente o público com seu downtempo e passos de dança calmos. Depois de vê-lo fechar com Talk Is Cheap, corremos para o palco secundário, onde o Kasabian iniciaria o show muito em breve.

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Mesmo com a perda de espaço que minhas músicas preferidas do Velociraptor tiveram na setlist, fizeram o segundo melhor show do festival pra mim, com direito a pedido de desculpas do vocalista Tom Meighan pelo cancelamento da turnê que fariam por aqui em 2012 e All You Need Is Love pra finalizar o espetáculo. A seguir voltamos para o “palco da floresta”, onde veríamos nossos dois últimos shows do festival, a começar pelo SBTRKT.

Com o fim do show do Damian Marley, todo público deixou o palco, o que possibilitou que pegássemos grade mesmo que de maneira despretensiosa. O trabalho do SBTRKT ao vivo me surpreendeu bastante, mesmo sem a presença do Sampha. Fizeram um show agitadíssimo e com direito a cover de Radiohead. Não considerava a baixa deles nos festivais da Argentina e daqui algo muito grandioso, mas a verdade é que o Brasil acabou perdendo um grande show.

Pra encerrar o festival ficamos com o Interpol, que dividia horário com Kings of Leon, escolha dos chilenos como headliner no slot preenchido pelo Pharrell por aqui. A grande diferença do show deles para o que vimos no Lollapalooza Brasil foi o fator horário. Assistir ao Interpol fechando o festival nos proporcionou uma experiência mais soturna e os 15 minutos a mais que eles puderam tocar lá nos presentearam com My Desire, minha faixa preferida do El Pintor.

Em suma, o Lollapalooza Chile é um festival da América do Sul que consegue proporcionar o que os da Europa proporcionam: tranquilidade e ambiente familiar. Vimos por lá diversas famílias que talvez não tenham assistido a um show sequer do festival, estavam ali apenas tendo um final de semana no parque.

Lollapalooza Argentina:

Passamos três dias em Buenos Aires antes do festival, então já estávamos mais orientados em relação à cidade do que quando chegamos a Santiago para o Lollapalooza Chile. O Lollapalooza Argentina é situado no Hipódromo de San Isidro, que fica tipo num município (não tão) próximo à cidade.Para chegarmos, passamos por seis estações de metrô e depois um trem, enfrentando, aproximadamente, umas 10. Entre o sair do hostel e estar dentro do hipódromo, estimo umas 2 horas e meia. Tão ruim ou pior que o Lollapalooza Brasil pra chegar. E, já na entrada, mais um ponto negativo pros hermanos: revistaram nossas mochilas e tiraram toda nossa comida (salgadinhos e bolachas, as mesmas que levamos no Chile e estamos acostumados e levar no Brasil), pois lá, segundo os seguranças, ninguém entra com comida.

Com esse contratempo, resolvemos então aproveitar nossos minutos que tínhamos antes do show do Three Days Grace e ir comprar comida e bebida. Foi aí que nos deparamos com a segunda bola fora do festival: além de uma mísera água custar 40 pesos (o equivalente a uns 12 reais), o local simplesmente não aceitava pagamento em cartão. Depois de uma semana, no Lollapalooza Brasil, comprei uma camiseta do Kasabian pra minha irmã num desses vendedores que ficam fora do festival e até eles estavam aceitando cartão. Aceitei a ironia, pensei na situação econômica ruim que a Argentina se encontra, e fui pro palco alternativo esperar pelo Three Days Grace, enquanto meu amigo foi pro palco principal ver Ed Motta pra pegar um lugar bom pro show do Interpol.

Mesmo com a troca de vocalista, Three Days Grace não se encontra muito diferente do que era. As músicas novas são tão comerciais quanto as antigas e o vocalista novo dá conta do trabalho. Fui então para o palco secundário pra encontrar um palco bem mais lotado de expectadores para a St. Vincent do que havia no Chile. O show atrasou 20 minutos e ela teve que cortar duas músicas da setlist, e foi assim que começou a bola de neve de atrasos que teríamos a seguir. O Hipódromo de San Isidro é algo bem parecido com o nosso Jockey, então os palcos também ficavam próximos. A diferença era a disposição, que se parecia mais como o Planeta Terra de 2012 e 2013 (considerando apenas os palcos principais), já que um ficava bem do lado do outro, portanto era necessário que o show de um tivesse acabado para iniciar o próximo.

Assim, corri para o palco ao lado para ver o Interpol fazer um show muito próximo do que já tinha visto no Chile e encontrei com meu amigo depois de um pouco de esforço. Após o show, tínhamos algumas opções em outros palcos, mas resolvemos nos manter no mesmo, já que a falta de bebida ou comida estava começando a afetar fisicamente. Sentamos próximo a uma das grades de trás e assistimos a área lotar completamente para o Foster The People. Inclusive, havia uma votação via twitter sobre qual seria o melhor show do dia e o Foster The People estava ganhando.

A banda não condiz muito com o meu gosto musical e as músicas do álbum novo não parecem favorecer muito a apresentação. Com o fim, resolvemos sentar e guardar o resto das nossas energias para o Jack White que viria a seguir. No nosso período de descanso, ouvíamos de longe os riffs de Babe, I’m Gonna Leave You e Whole Lotta Love provenientes do palco ao lado e esperávamos pelo fim para o começo do show do Jack White.

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Mais um começo explosivo de show, dessa vez com Just One Drink, mas o que roubava a cena era o comportamento dos argentinos: todos empurrando de um lado pro outro do começo ao fim. Assistir esse show foi tão difícil quanto jogar uma partida contra o Boca Juniors no La Bombonera. Em muitos momentos parecia até que o público desconsiderava o que era tocado pela banda e só queria mesmo bater cabeça. Não sei se o metal e o hardcore ainda não chegaram ao país, mas pra um povo que abriu rodinha até durante o show da St. Vincent, tão aí dois estilos musicais a serem explorados por lá com público garantido.

O grande momento da noite ficou por conta da inesquecível dobradinha Jack White + Robert Plant. A volta foi incrivelmente conturbada, a ponto de sairmos do hipódromo 23:30 e chegarmos no hostel 3:30 da manhã. No dia seguinte, resolvemos que encurtaríamos nosso planejamento de shows do dia (que incluía Smashing Pumpkins) para sairmos mais cedo e termos uma volta mais tranquila.

Chegamos lá e pegamos uma fila maior que a do primeiro dia pra entrar, então perdemos as 3 primeiras músicas do Kongos. Pelo pouco que havia escutado da banda, achei que fariam um show mais animado do que fizeram e o palco eletrônico que ficava ao lado estava constantemente invadindo a área do show com o som bem mais alto que o dos sul-africanos. Em seguida fomos ao palco principal, onde em poucos minutos Alt-J se apresentaria. O show deles é perfeito pra quem é fã, assim como o do Interpol, já que não oferecem muito mais do que oferecem em estúdio. Eu, pessoalmente, consegui me conectar e aproveitar bem os 50 minutos de apresentação. Meu amigo, que estava em cima do muro em relação a eles, não gostou nem um pouco.

Por fim, o headliner do dia pra nós: Kasabian. Pontualmente às 19:15 eles subiram ao palco, com um Sergio Pizzorno animado que já apareceu pulando como um boxeador. Diferentemente do dia anterior, os argentinos que me rodeavam colaboraram pra que esse fosse um show memorável, sem empurra-empurra, mas com pulos em todas as músicas. Reação esperada e quase que obrigatória pra um show como o do Kasabian.

Deixamos de ver um bom Smashing Pumpkins pra voltar mais cedo, mas a decisão se mostrou acertada quando nos vimos 5 horas mais cedo em casa em relação ao dia anterior. Resumindo, o Lollapalooza Argentina é mais desorganizado que o nosso em basicamente tudo: filas, ida, volta, opções de pagamento, preços das coisas lá dentro, organização com os horários… e o que faltou de stress no Chile, sobrou por lá.

Bruna Manfré

não é boa com descrições.

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